SPFW 25 Anos – Cobertura do quarto dia

Texto: Caroline Menis

Imagens: Divulgação São Paulo Fashion Week

Confira o que rolou no quarto dia do evento digital.

Na sábado (8), sete marcas fizeram suas apresentações virtuais que contaram com muito mix de estampas, resgate de identidade autoral e reflexão sobre a moda, trazendo o descolado para o novo normal.

No penúltimo dia do evento, Tom Martins abre o dia com a estreia da sua marca Martins, manifestado os anos 80, 90 e 2000, resgatando elementos emblemáticos das eras passadas na sua coleção. O vídeo de apresentação começa em preto e branco, com mistério e drama. As miçangas e detalhes manuais são a chave do lançamento. A estética sem gênero que as peças carregam, trazem vestes amplas e fluidas, para qualquer formato de corpo, listras, cores fortes e vivas, acessórios que dão peso e agregam identidade às peças. Em uma modelagem onde encontramos mix de estampas coloridas, animal print, xadrez e brilhos, alfaiataria solta ao corpo, calça jogger, fendas, detalhes com botões e bolsas feitas artesanalmente com miçangas. A coleção retrata o lado criativo e jovem à marca. Vestidos com babados, mangas bufantes e recorte com movimento, calça boca de sino em cetim. Os acessórios como gargantilhas e colares com spikes roubam a cena. Oversize, laços, colete e sobretudos. Estilo moderno, fun  e streetwear criativo sem gêneros, a marca com criação através do “multimarca conceito” apresentou desafio e tradução de roupas versáteis, com foco no produto e várias formas de ousar e usar. O leque de especialidades de Tom fica amostra, mas os tecidos e técnicas se sobressaem. A marca que em seu ano de estreia, em 2016, era focada em jeans, não perde a essência mas o portfólio inclui inserções mais espaçadas. “Dinâmica descolada”. 

A CA.CE.TE.Co, na nova coleção nomeada de Arquivo Zero, por Raphael Ribeiro, mostra que as partes do corpo falam mais que palavras em um cenário ainda de quarentena onde as pessoas estão vivendo seu cotidiano. Focada no underwear, a coleção permite a aceitação dos corpos e a participação do mesmo como produto principal. O ponto principal da marca é enfatizar o espírito livre, aceitação sexual, liberdade, direito à expressão, body positive e a diversidade, que podemos ver em seu casting, com amigos e familiares. A coleção traz a reflexão que o período desafiador serve para repensar e desacelerar por conta da pandemia, o artista achou mais consciente não fazer uma coleção de roupas e sim explorar o conforto e a liberdade que o momento nos pede. Entre as 12 peças apresentadas estão calcinhas, hot pants, fio dental, jockstraps, cueca boxer, sutiã com transparência e tops. A marca volta às origens que fizeram o nome da CA.CE.TE.Co. 

MODEM, de André Boffano, em apresentação poética, valoriza a moda brasileira e reflete sobre sustentabilidade, trazendo signos e códigos nas peças que mostram a moda como processo de conhecimento e transformação. O objetivo do vídeo é identificar a relação do tempo e do tempo de cada roupa, reafirmando o DNA e estética da marca, como ferramenta de comunicação. Luvas, alfaiataria inteligente, couro e malha, botões e ferragens em prata nas blusas, saias e calças, cropped, sobreposição, plissados, bolsa, bota over the knee e sapatos com salto em formato circular simboliza o chique atemporal nas cores neutras. 

Marina Dalgalarrondo traz mix de cores e perspectiva imersiva dos detalhes na atmosfera da coleção “SERão” de ÃO. A superfície plural ao audiovisual aproxima o público, fazendo esse jogo de linguagem que significa o ser que contempla o todo trazendo a ambiguidade maquinal/mecânica versus o instinto/orgânico. O delírio no ecossistema reflete o ser livre sendo resistência da cultura brasileira, a angústia que provoca e desperta a resiliência para a criação, “a escuridão da floresta revela o instinto do medo”. Decote profundo, plissados, luvas, estampas únicas e cortes assimétricos com sobreposições, cortes alongados e babados criam este cenário de analogia à pandemia que fez crescer a força criativa muito forte na estilista, trazendo elementos sustentáveis, repensando em como comunicar no aspecto de revolução digital. 

O “Ritual” de Amapô Jeans, de Carolina Gold e Pitty Taliani, com o apoio da Vicunha, estuda a forma e o universo urbano, levando-o ao conforto para dentro de casa em um desenvolvimento que agrega um valor maior por ser um trabalho autoral e atemporal, com materiais recicláveis e parcialmente reciclados e o upcycling, a marca apresentou diferentes tons e recortes de jeans, onde podemos visualizar elementos como babados, modelagem vintage e oversized com moletons, saias, croppeds, calça clochard, jogger, reta, pantacourt e flair, macacão estilo jardineira, kimono, colete e jaquetas com capuz, como terceira peça. Estampas em poá e o estilo comfy descolado que tem estado em alta durante a pandemia. “O jeans tem um uso óbvio e sua criação precisa ser sempre criativa e inovadora”. As estilistas e idealizadoras da marca optam pela indústria brasileira na hora de fazer suas criações e visam os seguintes pilares: tecelagem, caimento, sustentabilidade, tecidos sem muito elastano, peças vintage e duráveis. 

FREIHEIT – traduzido do alemão; liberdade – é estreia no SPFW e apresentou sua coleção minimalista “Flaguear Collection” com identidade visual que remete à bandeiras. Recorte quadrado e robusto, as peças da coleção lideram amplitude, alfaiataria. Botões pretos, short, camisetas regatas com tendências, terceira peça em casaco corta vento que remete ao universo sportswear, além do chapéu/boné com capa que aparece pela segunda vez na semana de moda. Macacão, cores vivas como vermelho, azul, roxo, amarelo, laranja, branco e preto são vistas também em croppeds, blusas em tricot, e estampas com corações e cruzes. Marcio Mota constrói a coleção em torno do ready to wear e streetwear urbano esportivo, para todos os tipos de corpos, estilos e gêneros. A modelagem quadrada permite que o GRID seja livre de acordo com o styling de quem usa, modelando o caimento. Marcio democratiza a arte e ressignifica o workwear com uma narrativa versátil e olhar de profundidade. 

Lino Villaventura, representante nacional na moda desde 1996 no SPFW, apresentou imagens fortes, inspiradoras que incentivam o poético impactante no vídeo-performance narrado por Ney Matogrosso. É possível identificar um estilo dramático em cena, com cores vivas, tecidos finos, vestidos com caimento e balanço, estampas, transparência, renda, saias rodadas, alfaiataria, assimetria e upcycling.