Texto: Caroline Menis
Imagens: Divulgação São Paulo Fashion Week
Confira o que rolou no terceiro dia do evento digital.
Na sexta-feira (6), oito marcas fizeram suas apresentações virtuais que contaram com muitos babados, plissados e liberdade criativa.
Lucas Leão abre com o primeiro desfile do dia, apresentando a coleção Aehter – elemento químico acima da atmosfera – através de um vídeo 3D, mostrando as peças em 360º, e estampas listradas feitas por Jemima Kos. Estilo moderno é a chave da sua coleção. O lançamento é desenvolvido com traços que se assemelha ao couro entrelaçado, formas amplas e acolchoadas, sofisticando o contemporâneo. Detalhes nos acessórios e streetwear refinado, Lucas não mediu esforços ao apresentar uma coleção que divide opiniões. Plissados e assimetria estilizam o corte fashionista das peças. Enfatizando o afastamento das pessoas durante a pandemia, trazendo o olhar de novos formatos de comunicação, imagem e consumo; além do envolvimento do digital, em perspectiva de imersão em trazer a coleção para outro plano com a eternização da imagem, espiritualismo e infinito. A imortalidade de uma peça atemporal fotografada e digitalizada, aproximando o espectador também com filtro de realidade aumentada, em 3D, no Instagram @lucasleao.co com imagens dos looks em 360º. A marca que sempre teve o traço da tecnologia muito forte, cria uma coleção que será lançada aos poucos, dando continuidade à experiência que se conecta ao mundo 5G, transmitindo a essência da marca: a roupa em contato com a pessoa.
LED, de Célio Dias, traz o desmembramento da nossa cultura com ideias de acordo com o tempo e a vivência do estilista. O intuito da sua coleção foi retomar o Brasil com o orgulho de ser brasileiro, que se perdeu ao longo dos últimos anos por conta da política e também pela pandemia, fazendo o público compreender que o digital é um suporte mas o contato físico e emocional é imprescindível. Vestes transpassadas assemelhando-se a ‘redes de pesca’, crochê com pontos abertos em biquínis, camisetas e vestidos, kimono com tecido leve e despojado, t-shirt com frases impactantes como “Abaixa o macho astral”, tie-dye em peças jeans, conjuntos de alfaiataria, capa de chuva, macacão, colete, peças em couro como saias e jaquetas, shorts curtos, casacos bicolor, estampa geométrica e divertida; metamorfose brasileira sem gêneros.
A MISCI, de Airon Martin, é uma das marcas de estréia no SPFW este ano e traz sua primeira coleção chamada Impúbere. A beleza poética e política das peças, inspiração criativa, conterrâneo de Mato Grosso do Sul, suas peças trazem o DNA de uma cidade agrária e em todas elas é possível ver a desconstrução do estilista através da imagem, cujo o tema é causar reflexão. “A moda é amadurecer”. Vestidos longos e secos ao corpo, conjunto de bermuda e camisa com franjas, calça ampla reta, estampa quadriculada, alfaiataria e cores que remetem ao Brasil, com detalhes em crochê. Intervenção artística e estética ligada à arquitetura e design imobiliário reflete a metodologia de materialização de produtos e serviços, se apropria do design da cidade de São Paulo e ao empreendedorismo.
Renata Buzzo faz sua estreia com um resgate ao barroco na sua coleção “Estudos Melancólicos”, trazendo elementos como mangas bufantes, corte amplo, detalhes manuais, transparência porém sem mostrar muita pele, vestidos retos com movimento singelo na barra, como túnicas. Frente única, cetim, lastex, decote nas costas, minimalista, transpassados, babados e estrutura romântica. Tons em nude se harmonizam com cores mais quentes e as delicadeza nos tecidos. A marca vegana, com pilares de slow fashion, peças numeradas e lixo zero, desde 2016, a sustentabilidade se desenvolve com técnicas de reutilizar o corte e tecidos das peças, criando as superfícies que trazem movimento às peças, utilizando da poesia para a criação das coleções, falando dos incômodos, sinais de esgotamento e o amanhã, caracterizando a sinergia com o atual, durante o processo criativo.
O quinto desfile de sexta-feira foi de Juliana Jabour, com uma estética gótica, sua coleção de sportswear refinado, descolado e atemporal, em colaboração com a famosa marca de bonés New Era, que celebra 100 anos, em um Sport Chic, juntando a alfaiataria com saias plissadas, revivendo o estilo Dior épico, babados balonê, mangas bufantes e estampa criativa, neutralizando o romântico com o streetwear, moletons e estampas de listras combinando com sapatos Oxford e meias ¾. As saias volumosas, laços, gola alta estilo vitoriano, contrapondo com os elementos da New Era, criando um perfect match, misturando as duas identidades.
Walério Araújo em sua criação “Quarentena” nos apresenta muita cor, expressando tempos de alegria e liberdade, resgatando a esperança para tempos melhores. Os detalhes manuais das duas peças, indicam a criatividade que o artista teve e a preocupação em sensibilizar alegria aos espectadores. A saia com volume e tule vermelha representa a revolução, a energia como cor quente, que instiga. Já a jaqueta com pedrarias, brilhos e franjas nas cores do arco-íris, nos lembra da luta LGBTQIA+, a prosperidade e o otimismo para o “novo normal”.
A nova coleção de Handred, Copacabana, por André Namitala, simboliza o tempo como fator principal para a criação da coleção. O Rio de Janeiro fica estampado nas peças que carregam elementos famosos da cidade maravilhosa, como o Cristo e a famosa calçada de Copacabana, em recortes amplos, leves e com transparência, suavizando o clima de verão. A modelagem simples porém chic traz bordados, estampas geométricas, chapéus, cores claras e muitas camadas.
O último desfile artístico virtual da noite foi estrelada pela coleção do bravo João Pimenta que utilizou a oportunidade para se posicionar através do estilo alegórico que junta a arte e a moda. João neutraliza os modelos para que qualquer pessoa se sinta representada e consiga se visualizar dentro da peça da coleção sem gêneros, “uma forma de humanizar a moda racista, gordofóbica, elitista e padronizada”. A coleção passa a sensação do profundo, do impactante, em uma obra inspirada na soma da vivência do artista, no contraponto pobre e rico, masculino e feminino. A moda como desejo de linguagem se encontra distante da arte em tempos atuais, portanto, a idealização deste desfile remete ao lado artístico com elementos bordados, máscaras, estampas xadrez, alfaiataria com diversas sobreposições e camadas, montando uma imagem futurista, gola vitoriana, renda, babados até nas barras das calças, muito mix de tecidos e jogos de estampas, maxi blazers estruturados, manga princesa e saia balonê, criando um universo dramático através de uma marca que sempre foi conhecida para o público masculino e João reposiciona e flexibiliza os padrões.