Texto: Caroline Menis
Imagens: Divulgação São Paulo Fashion Week
Confira o que rolou no quinto dia do evento digital.
Os três últimos dias do evento foram cruciais para mostrar a moda desconstruída e desenvolvimento tecnológico que rompe os paradigmas sócio-políticos e estéticas que sensibilizam os tempos de incerteza e sensibilidade atual. O vestir tem sido visto, na semana de moda brasileira como uma adaptação para maior versatilidade, conexão e comunicação.
Na domingo (9), sete marcas fizeram suas apresentações virtuais que contaram com muitas peças dramáticas, beachwear e homenagens à grandes mulheres.
No último dia de SPFW, Gloria Coelho abre o evento fazendo uma retrospectiva, mandando ideias ao universo, com estilo futurista e único, através do estudo sobre suas obsessões e as modelagens em que baseou sua carreira e DNA da marca com alfaiataria e recortes assimétricos, além de apresentar moda praia, ombreiras e malharia.
Luíz Cláudio, Apartamento 03, mostra o trabalho interrompido por uma nova realidade. A marca busca pela liberdade com peças em plissados, alfaiataria e babados dramáticos. Epítome da elegância e técnicas precisas de modelagem caracterizam essa coleção.
Proporções, volumes e a busca pelo autoconhecimento compõe a nova coleção da marca Aluf, de Ana Luísa Fernandes, criando novas formas de se comunicar e se envolver, expressando sentimentos e ideias nesse contexto de mundo em que a experiência física não se faz mais possível, até o momento. A coleção é dividida em três partes, sendo elas a primeira formada por tecidos crus, como uma tela em branco, a segunda composta por tons neutros envolvidos que ganham estampas de listras e brilhos, e, a terceira que explora profundidades com tecidos de trama de linho vazado.
Na coleção de Angela Brito, em seu segundo desfile para o SPFW, aprofunda o DNA da marca com técnicas de Pánu di Terá, técnicas de construção de tecidos manuais, com estampa em bordado manual, plissados, xadrez, sobreposições drapeadas, listras e assimetrias. Ainda é possível visualizar garrafas de água de plástico em peças, como manifesto à reciclagem, preservando a autenticidade do algodão sustentável como base de sua criação. Acessórios prateados englobam ainda mais o estilo modernizado da coleção.
Em “Lampejo” da marca Neriage, o conceito do lar, amplo, indefinido e caracterizado pela alfaiataria despojada, afirma que a coleção, em tons primários, remete ao minimalismo no quesito de recorte, com decotes transpassados, brilho e tecido fluido e plissado, mas ainda sim, esbanjando elegância às peças.
Isaac Silva é famoso por homenagear mulheres fortes que fizeram parte da sua trajetória como pessoa em seus desfiles. Nesta apresentação dividida em duas partes, Isaac conta uma história sobre Iemanjá e sua tia e nos deslumbra com um desfile, na segunda parte, visando a pluralidade, versatilidade e inclusão, usando três tipos de corpo. O artista, que carrega um dos nomes mais importantes para a indústria da moda, causou comoção ao escolher para o casting uma modelo gorda, sendo um dos poucos desfiles dessa semana que incluiu modelos fora do padrão. Vestidos e babados amplos, alfaiataria, peças alongadas fazem parte da sua coleção sem gênero, para todas as raças e tamanhos.
Na última apresentação da semana de moda brasileira, Ronaldo Fraga fecha este ciclo digital com chave de ouro, trazendo história, inspiração e muita emoção ao relembrar do seu primeiro desfile cujo tema era Zuzu Angel – costureira morta pela ditadura militar brasileira. A inspiração do estilista veio por conta dos tempos difíceis e de submersão durante a pandemia, batendo na tecla de que precisamos ser como Zuzu, que bateu de frente contra a repressão violenta da época. Ronaldo reinterpreta e reestrutura a estampa e coleção de 2001, com peças em renda, homenageando a história que faz paralelo com o contexto sócio-político atual. O poeta dos tecidos traz uma coleção 3D de vestidos simples e fortes.