O baiano Lucas Ferraz pode dizer que sua paixão pela arte ultrapassou as esferas da profissão. Formado em Design Gráfico, ele descobriu na fotografia outro meio de extravasar sua criatividade. Sob a alcunha de Kiolo, apelido de infância, ele vem estabelecendo seu espaço no circuito da fotografia brasileira com uma estética focada na geometria, na arquitetura, nas paisagens e nas formas simétricas, além de estar desenvolvendo grandes trabalhos na fotografia de natureza atualmente. O talento e o olhar aguçado conquistaram destaques na Casa Cor e também na sala de clientes exclusivos. Suas obras têm tiragem limitada, fazendo com que a aquisição de um de seus retratos seja um verdadeiro privilégio!
Além de fotógrafo e designer, Kiolo está sempre viajando, seja do Nordeste ao Sudeste do país ou ao redor do mundo. No meio de pontes aéreas e belíssimos cliques aqui e ali, o fotógrafo conversou com a COOL sobre sua identidade fotográfica, as fotos que gostaria (ou não) de fazer e o futuro do seu trabalho:
Quando você começou a perceber que a arquitetura, a simetria e as formas geométricas faziam parte da sua estética? O que faz com que elas sejam tão presentes nas suas obras? A afinidade com a geometria e a arquitetura está presente desde a escolha da minha profissão: fiz vestibular para Arquitetura e Design Gráfico. Embora tenha optado por me formar apenas na segunda, as simetrias e formas sempre marcaram o meu processo criativo enquanto designer e naturalmente se tornaram presentes na minha fotografia. Justamente por ter acontecido de forma espontânea, demorei um pouco a perceber que tinham se tornado características efetivamente marcantes, o que acabou acontecendo quando passaram a surgir demandas específicas desse tipo de imagem e notei que dispunha de muitas opções com tais referências.
Quando você observa as fotos, tanto autorais quanto de outros fotógrafos, o que sempre capta sua atenção? Como você costuma “interpretar” as fotografias? Observo muito a autenticidade do olhar do fotógrafo e da sua capacidade de extrair nuances, ângulos, detalhes e composições peculiares. Em tempos de globalização e redes sociais, onde as imagens de quase tudo são amplamente acessíveis, e em tempos de fácil acesso a recursos tecnológicos de edição, eu realmente admiro aqueles que se propõem a trilhar seu próprio caminho, criando estilo próprio e sendo sensato nas finalizações, distanciando-se da cópia, que é sempre o caminho mais fácil.
Você acredita que está desenvolvendo uma espécie de linguagem autoral na sua carreira ou pretende não se ater a tipos específicos de fotografia? Por quê? Olhando a minha trajetória e a partir do feedback que venho recebendo da crítica mais especializada, percebo que a minha fotografia tem uma marca autoral, que lhe confere identidade específica à partir do uso frequente de determinados elementos, como por exemplo a questão das geometrias do cotidiano e a busca dos detalhes que seriam imperceptíveis para a maior parte das pessoas. Contudo, simultaneamente, ela pode ser considerada uma fotografia livre, na medida em que minha inspiração surge nas mais diversificadas circunstâncias. Eu gosto dessa liberdade, de poder me permitir fotografar aquilo que me chama a atenção e inspira, sem necessariamente pré-determinar o que será.
Uma das características do seu trabalho é disponibilizar as fotos em tiragens limitadas. O que te impulsionou a comercializar de modo mais “exclusivo”? No momento em que a minha fotografia começa a ser reconhecida enquanto arte, mas, em paralelo, pode ser reproduzida infinitamente a partir dos respectivos arquivos digitais, limitar o número de cópias se tornou um ato de respeito ao meu cliente, que poderá escolher uma imagem a partir da informação de quantas outras existem iguais a que ele vai adquirir ou, em muitos casos, se a obra em negociação possui tiragem exclusiva com um único exemplar.
Você já comentou em entrevistas que nunca fotografou pessoas. Mas, se tivesse a oportunidade, quem você gostaria de fotografar e por quê? O que ocorre é que, justamente por me enxergar como um fotógrafo livre em relação às escolhas que faço, fotografar pessoas nunca foi o meu foco. Considero uma modalidade incrível, desafiadora e extremamente expressiva enquanto arte, mas não me identifico. Quem eu gostaria de fotografar? Talvez um selfie com um ídolo, no máximo! (risos)
Quais outros elementos você tem vontade de incorporar ao seu trabalho no futuro? Hoje boa parte da minha fotografia já reflete a formação como designer gráfico, mas as questões arquitetônicas e as texturas são vertentes que venho adicionando pontualmente. Uma das minhas vontades futuras é fundir ainda mais o processo criativo do design com a fotografia, produzindo uma linguagem mais experimental, que brinque com técnicas presentes em ambos. Além disso, diversificar sempre minhas experiências fotográficas para buscar elementos e composições ainda não exploradas.
Falando nisso, que mais te atrai no design e com o que você gosta de trabalhar nessa área? As duas perguntas podem ser respondidas com uma única palavra: criatividade. O que mais me atrai no trabalho como designer gráfico é justamente a atividade de criação e foi nessa parte que centralizei meu trabalho ao longo de quase 15 anos, pois essa era a forma que eu tinha de canalizar meu potencial criativo.
Juntamente com o aspecto arquitetônico das suas obras, é possível observar um grande apreço pela natureza também. Quando surgiu o interesse? O que mais te atrai na fotografia de natureza? Meu interesse passa por tudo aquilo que é provido de uma apresentação marcante. Como natureza e estética caminham “de mãos dadas”, fotografar paisagens e outras tantas texturas se tornou algo muito comum no meu trabalho. Além disso, a expedição para os Lençóis Maranhenses, em 2015, marcou minha carreira e agregou uma importante ótica das fotografias “landscape” ao meu acervo, me impulsionando a pensar em outras experiências similares para o futuro. Aqueles que tiveram oportunidade de conhecer minha obra a partir do resultado fotográfico dessa série puderam perceber com muita concretude a fusão dessa questão da natureza com a minha formação profissional.
Quais lições importantes o meio da fotografia te ensinou? A fotografia se consolidou pra mim como ofício e paixão e, como todo ofício, me ensinou que ao lado da inspiração e talento, técnica e disciplina precisam está sempre em primeiro plano. A realização e o reconhecimento serão sempre consequência do equilíbrio entre esses elementos.
Para finalizar, existe algum “objetivo maior” na fotografia que você gostaria de alcançar? Qual seria sua maior meta como fotógrafo? Nesse momento, por uma questão de opção pessoal, no Brasil veiculo minha obra diretamente para meus clientes, sem intermediação de galerias nacionais. Como a maior parte das pessoas, tenho muitos objetivos futuros, metas e até mesmo sonhos relacionados à fotografia, mas se tivesse que citar aqueles que cronologicamente se destacam no tempo, eu escolheria dizer que minhas metas mais concretas são de conseguir atingir um número significativo de pessoas que absorvam a minha obra a partir da sua essência e concretizar a minha primeira exposição solo, cujo tema foi escolhido de forma livre por mim e já vem sendo trabalhado à partir da curadoria cuidadosa.
Texto: Jacqueline Elise / Fotos: Divulgação