MILÃO: ONDE O DESIGN ENCONTRA A MODA

Tradicionalmente em Abril, rola em Milão a semana de design mais importante do mundo, onde todas as grandes marcas de móveis e moda se esforçam para chamar a atenção do mercado com instalações ousadas e criativas. Grandes players do mercado como Armani, Dior, Louis Vuitton, Hermès, Fendi e Versace se associam com mentes brilhantes para mostrar ao mundo sua versatilidade e ousadia. A regra é apenas uma: mostrar o que há de mais criativo e inovador, como se fosse um grande desfile de moda espalhado pela cidade inteira.

Profissionais do mundo todo se concentram na região em busca de novas tendências e inspirações. Arquitetos, designers, decoradores, lojistas, fabricantes, vendedores e curiosos se amontoam pelas calçadas, quase sempre com um gelato italiano na mão, querendo ver e serem vistos. A cidade ferve! Não há táxis disponíveis nem espaço nos restaurantes. As reservas precisam ser feitas com muita antecedência, caso você queira comer em algum lugar um pouco mais exclusivo. Os Milaneses detestam essa época do ano, onde a cidade se torna quase intransitável. Em toda esquina há um evento, exposição ou intervenção sendo apresentada. Marcas de carros, cosméticos, eletrodomésticos e móveis disputam a tapa a atenção da audiência qualificada que circula por ali, afinal, quase todos são formadores de opinião em seus mercados de atuação. Há desde geladeiras assinadas por Dolce & Gabbana, até cadeiras que são fruto de uma parceria luxuosa entre o designer super star Philipe Starck e Dior.

Marcel Wanders é outro designer estrelado que fica por ali, acessível aos meros mortais, durante essa meia dúzia de dias, quando os deuses do design baixam do Olimpo direto para as ruas lotadas de Milão.

Um dos protagonistas desta edição, foi a instalação criada por Philippe Stark para exibir as cadeiras que criou para a consagrada grife Dior. Num espaço com pé direito alto, cadeiras suspensas por cabos de aço sobem e descem ao som de música clássica instrumental, em frente a um imenso telão curvo de led com projeções das estampas dos tecidos da coleção. O efeito é poético, lúdico e bastante sofisticado. As filas para assistir a apresentação de poucos minutos virava o quarteirão e acumulam dezenas de curiosos que já haviam feito cadastro prévio por meio de QR code disponibilizado semanas antes.

Armani Casa presenteou o mercado com uma linda instalação de sua nova coleção de móveis em um palácio antigo, cheio de afrescos originais e paredes revestidas com tecido dourado que mais pareciam folhas de ouro. O perfume de ambiente, que jorrava pelos dutos do ar condicionado, tem a mesma fragrância usada pelo próprio Giorgio Armani, o que tornava a experiência mais pessoal e, de certa forma, afetiva.

Dolce & Gabbana abusou de estampas e padronagens com animal print e colorful effect. Tudo over, e lindo, como já é o DNA da marca. Versace criou ambientes amplos, neutros e com arranjos de flores arrebatadores. Pouco ousado, para o que se espera de Versace, mas bastante elegante e sóbrio.

O resumo da ópera, é que não houveram grandes lançamentos de novos produtos, até em função da crise mundial que assola a todos. O que tivemos sim, foram instalações caprichosas e bem montadas, para mostrar produtos de coleções passadas, porém com novas texturas, novos acabamentos e padrões. Isso também tem muito a ver com sustentabilidade. Não podemos mais lançar mil produtos novos a cada temporada. Precisamos renovar o que já é bom, com nova roupagem para fazer a roda da indústria girar, e nisso, os italianos são craques. Bravo!

Por Henrique Steyer