Exposição no museu da República celebra 40 anos de trajetória de Lia do Rio

Artista que vive na capital carioca apresenta obras inéditas em Brasília de sua pesquisa sobre a natureza do tempo.

Celebrando os 40 anos de trabalho de Lia do Rio, o Museu Nacional da República, em Brasília, abre exposição com obras da conceituada artista que vive na capital carioca. A mostra “Tempo em Suspensão” faz uma panorâmica de sua trajetória: começa na década de 80, no início de sua pesquisa sobre “tempo e natureza”, e culmina com uma surpreendente instalação em que nos coloca diante do futuro. São cerca de 40 trabalhos inéditos na capital federal, com curadoria de Bené Fonteles. Instalações, esculturas, objetos, fotografias, colagens, vídeos e desenhos ocupam as quatro salas do Espaço Galeria Acervo, até 4 de agosto. A entrada é franca.


Lia do Rio foi uma das primeiras artistas a trabalhar com temas ligados à natureza no Rio de Janeiro, muito antes dessa questão entrar para a ordem do dia, a partir da ECO 92. Suas obras são constituídas de materiais não convencionais (folhas secas, tijolos, troncos ou pedras) e acontecem, muitas vezes, na própria natureza. Mas suas questões falam, acima de tudo, do Tempo. “A natureza me fez perceber que o tempo não existe. Sem princípio, meio ou fim, o mundo está continuamente se transformando. Só existe o aqui e agora. Inúmeros, um atrás do outro, que começam e acabam em si mesmos. Os índios bem sabem disso. O problema é que nós nos esquecemos de que também somos natureza”, diz a artista.

Em atividade desde a década de 80, a paulista Lia do Rio apresenta trabalhos de diferentes fases da carreira. Destacam-se um imenso livro feito de folhas secas (O livro de folhas, 1994); uma grande escultura de vidro e sementes de pente de macaco, moldada com o perfil de duas irmãs gêmeas univitelinas (Anamariahelena, 1997); e outras recentes, como uma instalação com pedra brita (Escalada, 2015); e uma onde insere pedras retiradas de sua vesícula sobre imagem do solo pedregoso de Marte (Porvir, 2016). Algumas peças vieram de acervos, como o da Faculdade Cândido Mendes e do próprio Museu da República.

“Lia tem a coragem de não se importar em expor o que se diz efêmero no espaço museológico. Confere nobreza e leveza, que ganha na arte contemporânea no Brasil um lugar de relevância ainda não de todo reconhecido, mas por tudo, significativo e seminal”, explica Bené Fonteles, curador e coordenador do Movimento Artistas pela Natureza, projeto de artistas ativistas, denominados “artivistas”, que lutam a favor da consciência ecológica e da educação ambiental por meio da arte.

Para Fonteles, “Tempo em Suspensão” é uma mostra antológica, que demonstra o pensamento sofisticado de Lia do Rio ao longo de décadas, nos pondo em diálogo profundo com a grande ilusão que é o tempo.